Cansaço persistente, irritação, falta de atenção e queda de rendimento. Esses comportamentos, facilmente tachados de "preguiça" - na escola ou no trabalho - podem, na realidade, ser resultado de distúrbios do sono. E as consequências não param por aí: levam até ao risco de doença cardiovascular e depressão.
Segundo a dra. Stella Márcia Azevedo Tavares, médica coordenadora da Neurofisiologia Clínica do Hospital Israelita Albert Einstein (HIAE), a quantidade de horas de sono necessária varia de acordo com a idade. “Adolescentes precisam dormir mais do que adultos, bem como crianças e idosos têm um padrão de sono diferente, que inclui cochilos à tarde”.
A médica explica que há três grandes grupos de distúrbios do sono:
- insônias
- sonolência excessiva
- comportamentos anormais durante o sono
Para quem quer uma noite bem dormida ficam as orientações: “Não fazer exercícios fortes à noite, evitar as refeições pesadas e as atividades estimulantes - como assistir televisão - e ter um horário certo para dormir e acordar” ensina a médica.
Fases do sono
O sono tem diferentes fases:
- o sono REM (Rapid Eye Moviment – Movimentos Oculares Rápidos) é o do sonho. Os grandes músculos do corpo ficam paralisados para evitar a vivência.
- o sono NREM (que não tem os movimentos oculares), composto de quatro estágios, sendo 1 o mais superficial e 4 o mais profundo. Imagens mentais podem surgir nessa etapa; no entanto, não há conteúdo. Durante toda a noite, os estágios se intercalam.
Insônia
É o problema de sono mais comum na população brasileira. Caracteriza-se pela dificuldade em iniciar e manter o sono ou dormir de maneira não reparadora, o que acarreta repercussão nas atividades diurnas. A pessoa se sente cansada, irritada, sonolenta, com dores no corpo, desanimada, mal-humorada e apresenta alterações de memória.
- Causas: ansiedade, estresse, depressão, maus hábitos - como a ingestão - próximo ao horário de dormir - de bebidas alcoólicas, cafeína, chás mate e preto (que funcionam como estimulantes), falta de horário para dormir e acordar, alimentação pesada, prática de exercícios físicos à noite, problemas familiares, econômicos e profissionais. Também causas orgânicas, como alterações na respiração.
- Tratamento: um diagnóstico correto sobre o distúrbio e um estudo para descobrir a causa são essenciais. A partir daí, são indicadas as medidas psicológicas e medicamentosas necessárias para cada caso.
Sonolência excessiva
É caracterizada por muito sono ou sonolência nos momentos em que é necessário estar atento, como ao dirigir, em entrevistas, palestras ou cinema. Muitas vezes, é tão incontrolável que a pessoa chega a dormir em situações perigosas.
- Causas: dormir menos do que o necessário ou ter distúrbios do sono como, por exemplo, a apneia do sono.
- Tratamento: investigar a causa, levantar o diagnóstico e tratá-lo de acordo com o distúrbio encontrado. Se a causa for dormir menos do que o necessário, tentar aumentar as horas de sono.
Sonambulismo e terror noturno
Normalmente, manifestam-se em crianças.
No sonambulismo, enquanto dorme, a pessoa levanta da cama, anda pela casa e, ao acordar no outro dia, não se lembra de nada.
No terror noturno, a criança senta na cama e começa a gritar, parece apavorada; mas depois se deita novamente e também não lembra do fato.
Segundo a dra. Stella, não devemos acordar a criança durante o episódio, porque ela está em um estado de consciência que “mistura” sono profundo e vigília. “Ela pode ficar mais confusa e, às vezes, o episódio se prolonga. No sonambulismo e no terror noturno, a melhor postura é manter a calma e esperar passar”.
- Causa: ainda não há uma explicação para esses dois distúrbios.
- Tratamento: os dois problemas costumam desaparecer conforme a criança cresce. É necessário tomar providências apenas para evitar acidentes durante os episódios. Os adultos desenvolvem o sonambulismo como resultado de tensões emocionais, que devem ser tratadas.
Enurese
A criança urina na cama durante a noite.
Há dois tipos: enurese primária, em que crianças com mais de 5 anos não conseguem controlar a liberação de urina; e enurese secundária, em que conseguiam controlar e depois voltam a urinar.
- Causa: não são encontradas no tipo primário. No outro caso, a enurese é proveniente de problemas emocionais. Foi constatado, recentemente, que o distúrbio também pode ser provocado pela falta de um hormônio antidiurético, responsável por controlar a urina.
- Tratamento: se a causa for falta de hormônio, pode ser feito por meio de reposição. Também há tratamentos comportamentais.
Distúrbio comportamental do sono REM
É mais comum entre homens idosos, embora possa se manifestar em qualquer pessoa. A paralisia, característica normal desse estágio do sono, não acontece; portanto, a pessoa vivencia o que está sonhando. De acordo com dra. Stella, muitas vezes o comportamento é violento e as pessoas acabam com fraturas, cortes e machucando seus companheiros. Devem ser tomadas medidas de segurança - como manter janelas e portas trancadas - para evitar acidentes.
- Causa: na maioria dos casos dos casos não é conhecida.
- Tratamento: uso de medicamentos específicos, de acordo com avaliação médica.
Apneia
É um distúrbio com alta prevalência na população. Trata-se da diminuição ou interrupção da respiração por, no mínimo, 10 segundos. Com isso, despertar por várias vezes durante a noite é comum.
Segundo a dra. Stella, atinge mais os homens de meia idade acima do peso e mulheres após a menopausa, sendo que até mesmo as crianças ou pessoas de qualquer idade podem ser afetadas. Geralmente, a pessoa ronca, acorda cansada, às vezes com a boca seca, fica sonolenta e apresenta queda de rendimento, além de correr risco de doença cardiovascular.
- Causas: obesidade, características físicas como o aumento das amígdalas (normalmente em crianças) ou, ainda, o estreitamento das vias respiratórias.
- Tratamento: cirurgias, uso do CPAP (Pressão Positiva Contínua nas Vias Aéreas) - aparelho que injeta, com pressão, ar comprimido no nariz e assim desobstrui a faringe de forma mecânica -, uso de aparelho dentário, emagrecimento e cuidado medicamentoso.
Como constatar
Além da observação dos parentes em torno de nossas atitudes enquanto dormimos, há a polissonografia, exame que tem o papel de analisar o paciente enquanto dorme.
Uma noite de sono monitorada por eletrodos e sensores, em um laboratório especializado, é a maneira de observar qual o distúrbio. São acompanhados os movimentos dos olhos e pernas, a atividade elétrica cerebral, a respiração, o teor de oxigênio no sangue, entre outras avaliações.
Segundo a dra. Stella, a polissonografia é o exame que avalia objetivamente o sono de uma pessoa. Ainda é o melhor método para investigar os distúrbios. “É um exame de excelência”, afirma. Antes de ir para o quarto, o paciente preenche um formulário com questões sobre seus hábitos. Na análise, leva-se em consideração o efeito da primeira noite – dormir em lugar diferente com vários aparelhos.